Janet Sobel
- Flávia Tronca
- 21 de out.
- 2 min de leitura
Atualizado: 22 de out.
OS ARTISTAS vinculados a uma das correntes mais audaciosas do ABSTRACIONISMO, muitas vezes chamada de ACTION PAINTING ou gestualismo, mergulharam na criação de uma pintura dinâmica e expressiva.

Em Nova York, esses visionários, tanto homens quanto mulheres, formaram uma rede de estudo, exposição e convivência.
O estilo marcante não apenas anunciava a transformação de um novo mundo, mas também apresentava as duras realidades da Grande Depressão, da Segunda Guerra Mundial e da crescente ameaça atômica no contexto da Guerra Fria.

Entre esses artistas brilhantes, trago hoje para nossa conversa JANET SOBEL (1893-1968), uma ucraniana que imigrou para os Estados Unidos em 1908, após a trágica perda de seu pai em um ataque antissemita.

Autodidata, Sobel começou a pintar em 1938, aos 45 anos, e sua obra foi profundamente influenciada por suas emoções, pela música – como a Sinfonia n° 7 do russo Dmitri Shostakovich, que musicalmente traz o Cerco de Leningrado – e pela força de sua herança judaica.
"Sou surrealista, pinto o que sinto dentro de mim", afirmava ela, antes de explorar as dimensões do automatismo em suas pinturas de linhas gestuais explosivas, um estilo que rapidamente chamou a atenção da cena artística nova-iorquina.

Cores intensas misturadas a areia eram derramadas e espalhadas sobre a tela, e segundo o crítico Clement Greenberg, Sobel foi uma das pioneiras da técnica all-over no Expressionismo Abstrato, onde a tinta se espalha por toda a superfície, criando um impacto visual inconfundível.

Apoiada por seu filho Sol, Sobel rapidamente ganhou destaque. Seu sucesso despontou, e, ao lado de figuras notáveis como Leonora Carrington e a romena Hedda Sterne, teve a honra de participar da exposição THE WOMEN, realizada pela galeria The Art of This Century de Peggy Guggenheim, em 1945.
No ano seguinte, Guggenheim lhe dedicou uma exposição individual, que incluiu a impressionante VIA LÁCTEA (1945), uma obra marcada por linhas de esmalte derramadas que lembram torvelinhos e teias de aranha.

As inovadoras drip paintings (pinturas por gotejamento) de Sobel foram apresentadas ao mundo pela primeira vez em 1947.
Diante do que sabemos, está claro que Sobel merece ser reconhecida como uma influência determinante para Pollock, mas, ironicamente, seu nome permanece ofuscado, enquanto o dele aparece intensamente em todos os lugares.

Infelizmente, após se mudar para New Jersey em 1947, Sobel desapareceu das luzes. Somente no final da década de 1960, com a aquisição de VIA LÁCTEA pelo MoMA, seu nome voltou a aparecer.
Embora muitas vezes negligenciada na historia do Expressionismo Abstrato, decidi destacá-la aqui, devido ao impacto inegável de seu trabalho e à sua crescente reintegração na história artística contemporânea.

Embora eu tenha visto essa obra pela primeira vez no MoMA, em Nova York, tive a oportunidade de reencontrá-la em uma exposição do Pollock, em Paris, algum tempo depois.


JANET SOBEL
Via Láctea, 1945.
Flávia Zambon Tronca







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